quinta-feira, 25 de julho de 2013

Para Ruan Philippe e Davi Mateus ( Farofa) , com amor .

O racismo é cruel. E a ignorância, às vezes é uma benção. Duas frases que não paro de repetir, há um bom tempo. Há alguns dias, vi no Blogueiras Negras, um texto que falava sobre o dano psicológico que o racismo causa em alguns ativistas, as dores, as dificuldades, o tempo gasto, a correria e algumas vezes a sensação de que tudo está perdido. Segundo as palavras de Jarid Arraes: “Para quem faz parte de algum grupo desfavorecido, é praticamente impossível levar uma vida sem pelo menos alguns episódios de violência.”
Acima de tudo, o racismo é cruel, não por que está localizado apenas no âmbito do “gostar ou não de negros”, mas porque é estrutural. Este é como um câncer em estágio de metástase, que vai se alastrando, tomando toda a estrutura, até restar apenas ele e nada mais.
Compreender, que o racismo foi estruturante da sociedade e da economia brasileira é central, pra quem está na luta anti-racista. É compreender que os espaços de esquerda, não estão imunes desta ideologia, e muitas vezes reproduzem as mesmas.
Escrevo esse texto, após os acontecimentos ocorrido no Hotel Othon, em Salvador, Bahia, historicamente, um dos hotéis mais badalados da cidade, localizado em um bairro que é reduto da elite baiana. Foi nesse Hotel que o PT, realizou o Seminário Participação Popular e Movimento Sociais, no dia 25/07.
Confesso que ver a militância petista, em peso,os companheiros do MST, do Movimento Estudantil, do Movimento de Luta por Moradia, do Movimento Negro entre outros, ocuparem esse espaço, foi lindo. Fiquei imaginando a cara dos moradores da Ondina, com tanto preto, tanta mulher, tanto LGBT, tanto sem-terra e sem teto, circulando pelo bairro.
Entretanto, esta alegria foi dispersada pelo acontecimento com os jovens Ruan Philippe e Davi Mateus, vulgo Farofa.Os dois, militantes da Juventude, do Movimento Negro, com os quais convivo diariamente, fazendo política, lutando por um mundo mais justo, nas mesmas trincheiras de luta.Barrados, na entrada do Hotel, pela Policia Federal, estes vivenciaram o racismo literalmente na pele, e apesar de estarem com as credenciais a vista, foram separados para averiguação.
Posteriormente,  juntamente com outros companheiros do MST, e de outros movimentos sociais, foram ameaçados de prisão, pela PF, que chamou a Policia Militar para efetuar a prisão, que acabou não ocorrendo por conta de intervenção de diversos companheiros e companheiras.
Sabemos bem a forma que a policia identifica “suspeitos”. O bloco afro Ilê Aiyê, cantou essa bola há muito tempo, quando disse que “negro sempre é vilão, até meu bem provar que não”, e a suspeita da cor da pele, dos cabelos crespos, de todos os estereótipos criados.A mesma forma de identificação que barrou Ruan e Farofa, no Hotel, também é usada dentro das favelas, morros, bairros periféricos, e afins, pela Policia Militar.É a mesma forma com que eles decidem, quem morre, quem vive, quem é cidadão ou não.
Hoje é dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Enquanto mulher negra, quero me solidarizar com os companheiros. Sei que na hora, que o racismo bate na nossa cara, a resposta é a raiva. Audre Lord, em um dos seus textos, afirma que: “Minha resposta ao racismo é raiva. Eu vivi com raiva, a ignorando, me alimentado dela, aprendendo a usá-la antes de ela destruir minhas visões, durante a maior parte da minha vida. Uma vez respondi em silêncio, com medo do peso. Meu medo da raiva me ensinou nada. Seu medo da raiva irá te ensinar nada, também.”
Acho lindo, quando Audre diz , que o medo da raiva, não a ensinou nada. Nós, pretos e pretas, da periferia, militantes, jovens, não podemos ter medo da raiva.Não podemos ter medo do mundo, da luta, e precisamos estar prontos para enfrentar estes momentos.Mas, prontos também para receber o colo, o amparo, para se deixar deitar na cabeça de balanço da irmandade.
A frase de minha dirigente Danielle Ferreira, mulher negra, petista, de esquerda e socialista, exemplifica bem a sensação com qual a Juventude Negra Petista acordou: “Não é esse o PT que eu quero”.
A vocês , deixo um trecho do texto de Cidinha da Silva, onde ela fala sobre a saida de Matilde Ribeiro da SEPPIR.O nome do texto é Estamos por nossa própria conta.


“É, estamos por nossa própria conta. Sejamos Matilde Ribeiro, Benedita da Silva, Lecy Brandão, Celso Pitta ou Orlando Silva, chamado por alguns de Nelson Gonçalves, nada nos diferencia, somos pessoas negras, estamos todas no mesmo barco e o racismo nos bombardeia ou bombardeará o casco.
Pouco importa o que tenhamos feito ou construído, sob a mira dos holofotes racistas somos meras sombras, pois pertencemos à mesma comunidade de destino. Não nos iludamos, qualquer um de nós pode ser o próximo alvo.”

Para acesso integral aos textos: 

Mulheres Negras respondendo ao racismo, Audre Lord:




Um comentário:

  1. Fico numa alegria retada quando vejo que nada está perdido. Por mais bizarrice que presencie, vivencie, engula, vomite 'a vida dá sempre um jeito'!! (repito sempre essa frase). E você Luana Soares é um belo jeito que a vida nos deu militando, alargando fronteiras, brigando por dignidade e justiça que ainda não conhecemos de fato. Justiça que vejo, não chega na periferia, não mata a fome da criança do morro, não atende a mulher negra no posto de saúde do bairro(seja ela amarela ou preta..), não dá escola e quando dá não tem professor/a.... a luta é árdua, mas pra quem já enfrentou tumbeiros, tronco, banzu... essa luta a gente também topa no punho, no peito. Você me representa!!! Axé companheira!

    ResponderExcluir